MARCOS COSTHA

A banalização de Deus em nossa sociedade moderna é um claro reflexo da nossa total falta de percepção do que realmente acontece em nossa volta. Hoje em dia tudo o que acontece é obra direta das mãos de Deus ou interferência do seu planejamento divino. Deus é o senhor absoluto que além de nos proporcionar a natureza e a vida, nos dá a oportunidade de vivermos diretamente em um mundo repleto de seres e coisas. Não satisfeito, ainda tem tempo para interferir diariamente na vida de todos os habitantes desse mundo. Ou seja, partindo desse pressuposto, Deus seria tipo um esquisitão esquizofrênico, meio louco. Tão alucinado pela sua criação que a vigia todos os dias e todas as noite esperando uma brecha para realizar seus milagres espetaculares. claro que isso na visão de quase todos os religiosos que já conheci, pois particularmente tenho a minha própria.

Hoje, se usa Deus para justificar, agradecer, explicar e enaltecer qualquer coisa boa que aconteça em nossas vidas. Virou tipo um protocolo obrigatório para qualquer pessoa religiosa que consiga algum crescimento pessoal ou financeiro idealizá-lo como o responsável por tudo de bom que aconteça, e em alguns casos até quando elas não saem do jeito que a gente espera. É nessa brecha de princípios duvidosos que reina a parte podre da comunidade religiosa, ou seja, picaretas mal intencionado que utilizam esse tipo de manifestação divina para promover suas Igrejas, suas comunidades e suas ideologias tornando o povo escravo de princípios religiosos inúteis. É o claro exemplo da pessoa grave internado em um hospital a beira da morte, se ela se salva é milagre de Deus, se ela morre a vontade de Deus foi feita, pois Deus sabe o que é melhor. Resumindo, não importa o que aconteça, Deus é responsável por tudo e tudo o que ele faz é certo... Ninguém tem coragem suficiente para contestar as supostas interferências de Deus ou a sua relativa omissão em diversas situações que desgraçavam nossa vida todos os dias. E nesse contexto, as desculpas e as graças acabam se tornando ponto de autopromoção. 

Um dos pontos estranhos que essa banalização promove é o aparecimento oportuno de diversas religiões que utilizam essa “interferência divina” para ludibriar pessoas inocentes que começam a achar que realmente tudo isso é verdade, quando na verdade pouca coisa que acontece na nossa vida é realmente obra das mãos de Deus. O que vem a seguir é um festival de besteiras religiosas e uma lavagem cerebral dominical onde se eterniza a submissão total de fieis que lotam igrejas nos domingos em busca de salvação. Afinal, é muito mais fácil lidar com um público submisso que não contesta, não indaga e aceita tudo como uma verdade absoluta do que encarar dúvidas, receios, e renovação! A comodidade nesse caso é questão de sobrevivência que torna o mundo bem mais fácil de se compreender!!

O mistério de Deus provoca esse tipo de atitude nas pessoas.

Não há interferência de Deus quando você ganha e outra pessoa perde, isso seria o cúmulo da falta de senso. Seguimos então um Deus que escolhe quem deve ganhar e quem deve perder? Partindo disso podemos extinguir a interferência de Deus em qualquer jogo que exista nesse mundo, porque nessa situação sempre irá existir um perdedor. Deus age nos momentos certos. Não como vocês querem ou da forma que vocês idealizam. 

Para a grande maioria das pessoas Deus é o responsável por tudo que acontece na nossa vida. Contudo, assim como o pai que sente orgulho das realizações pessoais do seu filho, tenho plena certeza de que Deus, sendo o pai de todos nós,  sente-se muito mais realizado quando observa que seus filhos estão crescendo por seus méritos próprios, aproveitando ao máximo a vida que lhes foi dado como dádiva única e insubstituível!

Marcos Dias