MARCOS COSTHA

Deve ser muito chato ser Deus!

Cercado de anjos sem ter o que fazer. Perdido na imensidão do espaço sem objetivos e sem rumo. Ficar ouvindo preces, súplicas, choros e lamentações de gente descontente para o resto da eternidade e ter que ser preocupar com o problema dos outros enquanto ninguém pode ouvir os seus próprios.

Deve ser muito chato se Deus!

Criar o homem e não ter nenhum poder sobre ele. É como se uma mãe desse luz a um filho e logo depois o largasse no mundo esperando que com os ensinamentos da “palavra” e com a sabedoria dos outros ele cresça e possa ser um homem feliz e melhor. Deus concede vida a todos nós e depois disso vira mero expectador das nossas aventuras. É um simples observador das nossas vidas. Alguém que a gente lembra quando as coisas começam a dar errado. 

Deve ser muito chato ser Deus!

Ter poder e ao mesmo tempo não ter. Ser onipresente e ao mesmo tempo não ser. Isso porque tudo que falam dele não passa de meras expectativas e de uma fé que todos insistem em ter. Ninguém nunca o viu. Ninguém nunca sentiu seu toque. Ele é um personagem invisível e ao mesmo tempo não é...

Deve ser muito chato ser Deus!

Observar de longe toda a grandiosidade da vida humana, sem poder participar. Talvez seja por isso, que desceu um pouco em forma de homem e experimentou da condição humana. Mal sabia ele que aquela criatura que ele tinha criado tinha se tornado naquele ser tão egoísta, desumano e cruel.  E em poucos anos sua curiosidade se transformou em decepção.

Deve ser muito chato ser Deus

Não saber que o criou. Não ter idéia de onde veio. Ser um Deus sem origem, sem pai, sem mãe. Uma criatura sem identidade, sem história, sem sombra.  Fruto de um acaso e sem futuro. Ser um espírito invisível que só existe na fé e no pensamento das pessoas.

MARCOS COSTHA